Minhas Folhas de Relva

percepções do cotidiano em letras livres

Invisíveis 02/10/2009

Filed under: Cotidiano — Aline Moraes @ 3:05 AM
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São Paulo está cheia de invisíveis. É o Gari, o Cobrador de ônibus, o Porteiro do prédio, até o Vizinho no elevador. Nossa, vários… Já fizeram até pesquisa científica na USP sobre o assunto. Mas há um tipo de invisibilidade que me incomoda particularmente.

Eu não a cumprimento nem troco um olhar com ela. Nunca dá. Ela está sempre com os olhos voltados para baixo, para o chão, compenetrada em seu serviço. Vejo-as todos os dias. Às vezes, vejo-os. Estão sempre lá, empunhando uma vassoura com aquelas “cerdas” meio plásticas, de cores fluorescentes. Varre-varre-varre.

Não posso deixar de reparar no pessoal que varre o chão das estações de Metrô. Convivo com eles todo o santo dia, na ida e na volta. Queria um dia parar um deles, segurar sua vassoura por um curto instante e dar um sorriso, agradecer por tornar o Metrô o lugar mais limpo de São Paulo. Se tem alguém que deveria ser homenageado naqueles anúncios do governo paulistano são esses funcionários. Não só pelo serviço que prestam, mas também pela “paciência de jó”.

Incrível como as pessoas que circulam pelo Metrô conseguem ignorar os encarregados da limpeza! Deve dar o maior trabalho varrer aquele chão preto emborrachado – todo coberto com a poeira de São Paulo – até reunir a sujeira num cantinho para recolher. E ninguém tem a “pachorra” (como diz meu pai) de desviar do montinho de poeira, basta esticar um pouco mais o passo e está tudo certo.

Mas não… tem que passar por cima, espalhar tudo outra vez. E fazer as vassourinhas varrerem tudo outra vez, sem o direito de xingar, se revoltar ou se atirar no chão esperneando. Enquanto passam por cima do serviço deles, o pessoal da limpeza tem é que passar por cima da falta de educação dos outros. É o cúmulo. Só se desvia dos homens e mulheres de vassoura por causa daquele princípio físico de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço.

Espero que, um dia desses, alguém atropele, sem escrúpulos, o montinho de uma funcionária em plena TPM, das brabas. Aposto que, dessa vez, não terá como não reparar na vassourinha…

 

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