Muito estranho ser a única veterana numa sala de segundo ano da faculdade… mesmo que seus coleguinhas se pareçam com você… Ainda me sentia assim, deslocada, no verdadeiro último dia de aula. Curso de Elementos do Fotojornalismo.
E lá fui eu desenterrar todo o peso (nunca parei para mensurar, na verdade) de cinco anos de ECA pra avaliar o curso, o professor, dizer quantos picaretas os bixos ainda encontrarão pela frente… Senti uma ponta de esperança quando a discussão sobre a qualidade do curso surgiu – e mais amadurecida, ainda que entre alunos do segundo ano. Acho que os sacrifícios do Jornot2005 ainda valerão de algo.
Fechamos o curso com comes e bebes. Com direito até a Prosecco e um patê de queijo árabe, muito bom! Mas eu já não fazia parte daquele quadro bonito de alunos e professor confraternizando. Não tinha com quem brindar, nem o quê… Tomei uma última taça de champagne num gole só, juntei minhas coisas e parti sem dizer tchau a ninguém. Aquilo não tinha cara de despedida. Nem de recomeço. Não tinha cara de nada…
Passei no banheiro e vi duas meninas falando sobre namorados… Me sinto velha quando ouço desabafos do tipo no banheiro da faculdade. Desci as escadas. Encontrei a namorada de um colega e pensei ‘ela ainda tem um ano de ECA pela frente’… Já no hall de entrada (no caso, de saída) do Prédio Central, olhei de relance a máquina de café. Só comprei dela uma vez. Mas ela já testemunhou algumas conversas, alguns encontros e desencontros entre uma xerox e outra…
Finalmente saí e caminhei para o ponto de ônibus próximo à ECA. Vi aquele bando de bixos macaqueando, não consegui ficar. Caminhei até o ponto da FAU – no máximo encontraria meus colegas de sala e de busão, como nos velhos tempos.
Não havia nenhum conhecido lá (nem mesmo eu). Caía uma fina garoa, como um vento molhado. Não quis abrir o guarda-chuva, nem proteger o cabelo. Não precisava mais.
Olhei para cada detalhe dali como se pudesse imortalizar em fotografias as imagens formadas na retina, como se cada lembrança que vinha à mente também pudesse marcar fundo esse registro. Foi dando um aperto no peito… Aquela angústia de olhar em volta, na esperança de encontrar um rosto conhecido e querido. Nada. Só eu e o peito apertado. E o vento molhado soprando.
O ônibus chegou. A SPTrans colocou o Metrô Santana (região onde moro agora) como ponto final de duas linhas que saem da USP. Mas… que importa? Nem sei quando precisarei pegar outro ônibus de lá…
Dei boa noite ao motorista, subi e sentei num dos bancos da frente. Eu queria ficar só, no escuro, quieta. Encostei a cabeça no vidro, amortecida pela minha blusa de frio transformada em travesseiro. Olhando do alto do busão todo aquele lugar, a imensidão daquela Cidade uUiversitária; olhando os bixos da ECA que, inevitavelmente, subiram no mesmo ônibus com suas conversas animadas, com seu entusiasmo de novato… Bateu um vazio.
As lágrimas reclamaram daquele aperto cada vez mais forte no peito e rolaram sem pedir licença. Chorei copiosamente, abafando os soluços no travesseiro improvisado. Jamais imaginei que eu fosse chorar quando notasse que os tempos de faculdade chegaram ao fim, jamais achei que sentiria tanta falta de ser bixete, de ter uma turma, de fazer parte daquilo…
Sempre tive a impressão de que não curti muito a ECA. Mas, naquele dia, me dei conta de que aproveitei muito, vivi muito, sonhei muito, aprontei muito, ri muito, aprendi muito sim! Estava tudo ali, pincelado no meu quadro uspiano, naquela segunda-feira de dezembro qualquer…
Não havia mais vazio. Eu estava cheia, cheia de ECA, de USP, cheia de vida, cheia de novos sonhos e perspectivas, cheia de lágrimas, cheia de saudades… Só doeu quando caiu a ficha de que a vida de universitária de primeira viagem já passou, não me pertence mais, que eu não experimentarei mais as sensações de antes… Agora, a cidade universitária já tem novas Alines, Fábios, Leos, Nanas, Kivias, Fofos, Malas…
É, é duro admitir que as coisas são assim, que o tempo passa (e passou) e que as minhas cidades, a partir de agora, serão outras. Mas, no fim das contas, como é bom ver que os últimos cinco anos não passaram em branco! Como é bom perceber que eu já não vejo aquele lugar, nem mesmo as minhas memórias, da mesma forma. Meu olhar amadureceu. Eu cresci.
Amém!