“Deus é um ser pessoal, Deus é amor. (…) não é cioso da nossa liberdade: respeita-a. Foi ele quem a criou, foi ele quem a quis.” – René Rémond no prefácio do livro A Alegria de Crer e Viver
“Vocês Me procurarão e Me acharão, quando Me procurarem de todo coração” (Jeremias 29:13)
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Agora que meu irmão está no Paraguai, nossas conversas acontecem via skype. E ele sempre bate na tecla de Deus, de ir à igreja, de orar. Diz que eu estou me afastando Dele e que me reaproximar faria bem às minhas angústias… Tenho pensado muito no que significa Deus, no que ele é, afinal.
Desde pequena, fazia perguntas do tipo “mãe, se Deus é bom, por que ele deixa algumas pessoas morrerem e outras não?”. A questão era ‘como Ele escolhe quem merece ou não receber sua graça, seus milagres’. Anos e anos depois, depois de testemunhar tantas tragédias pelo mundo, a pergunta continua para mim: quem é esse Deus? Como ele age?
Aqueles que se dizem crentes e tementes a Ele continuam me dizendo que a benção é dada aos que creem, quem têm Fé em Deus. Isso me soa até egocêntrico. Ele, que é o pai de todos, só abençoa aqueles que concordam com Ele, que pensam como Ele, que acreditam Nele. Isso é certo? Não acho que Deus pense e aja assim.
Deus é meu grande Pai. Sim, eu falo com Ele. Eu peço por sua sabedoria, por seus conselhos, pelo conforto do seu colo. Mas também já pedi para ele, por exemplo, me passar no vestibular. Chega a ser força do hábito fazer esses pedidos absurdos – o que eu acho desprezível. Afinal, por que ele me passaria (soprando as respostas?) e excluiria outra pessoa tão esforçada quanto eu do direito de estudar na USP, só porque eu pedi e minha família é temente a Ele? Não seria justo.
No máximo, ele poderia me dizer palavras de conforto, as quais, se eu as ouvisse, poderiam me ajudar a manter a calma necessária para superar um momento de tanta tensão quanto o vestibular. E acho que foi isso mesmo que Ele fez. No meu caso, eu consegui ouvir.
Sim, temos que ter Fé. No quê? Unicamente em Deus? E os agnósticos? Ateus? Serão abandonados por Ele então (se realmente existir Deus como tradicionalmente se pensa)? Sinto que Deus quer é que nós tenhamos fé na vida, fé no Amor, nas pessoas, nos sonhos, na inteligência, em nós mesmos. Ele quer que acreditemos no deus que existe em cada um de nós, no bem que podemos fazer.
É essa fé, essa força, essa energia que emana quando acreditamos muito em algo que faz os milagres acontecerem. Ter fé é acreditar, seja lá no que for. Pode ser em Deus. Pode ser em outra coisa. Ter fé é uma construção, é crescer. Por isso, buscamos cotidianamente esse entendimento.
Minha avó é uma crente fervorosa. Certamente, ir a igreja ajudou-a a desenvolver essa fé especial. Lá, ela realizou, por exemplo, trabalhos sociais, prestou ajuda e ofereceu conforto espiritual a quem necessitava – e faz isso até hoje, com muito Amor. Por sua fé, ela alcançou muitos milagres.
Mas apenas cumprir o protocolo de ir à igreja e dobrar os joelhos não basta. Aliás, nada disso adianta se não alimentar sua fé na vida e em si mesmo como um pedacinho de Deus no mundo. E, ainda assim, isso não significa que Ele fará tudo por você. Mesmo que ele seja o Todo-poderoso, Ele não quererá fazer tudo por você.
Vejo Deus quase como o meu pai de carne e osso. Ele ama a todos os seus filhos da mesma forma e faz por nós o que pode: aconselha, acalenta, dá bronca, elogia. Às vezes, dá até uns tapas, coloca de castigo. Mas é até aí que ele está disposto a levar o seu poder.
Deus nos deu a vida (não sou criacionista, mas acredito numa força especial, além da compreensão científica, que organizou o caos original) e, ao mesmo tempo, nos deu a liberdade (inclusive de amá-lo). E, por isso mesmo, respeita essa liberdade. Não acho que Ele criaria vida inteligente se fosse para determiná-la, controlá-la, limitá-la ao que chamam de destino, a caminhos previamente traçados, à Sua vontade e nada mais. Seria muito, muito sem graça…
E você, o que acha? O que sente? Quem é Deus para você?