Faz uns quatro anos que eu quero ver esse filme. A primeira vez foi na faculdade, em 2006. Perdi o ingresso pra sessão no Cinusp porque fiquei presa no Poupatempo (que ironia, não?). Seria a primeira vez que usaria o Cinema da USP. Parecia que eu só poderia ter visto o tal filme lá. Porque, desde então, o filme ficou longe de mim. Não achava nas locadoras. “Tá alugado” ou “Xiii, não temos…”. Depois de um tempo, esqueci. Depois, lembrei e continuei sem achar. Um dia passou no Telecine Cult, mas já estava no final… Até que me lembraram de algo óbvio: “baixa da internet, oras”.
Resolvi tentar. Não sou muito afeita a alta tecnologia. Torrent? Converter? Isso e aquilo? Muito nome complicado. Digitei o nome do filme no Google e achei um site de free download. Pronto. Pronto? Nada… Veio num formato esquisito. Tentei converter em três programas diferentes. Com o Format Factory consegui, pelo menos, fazer rodar no meu notebook. Já tinha legenda, ótimo! Ótimo nada. O audio veio com delay… Tentei até baixar em outro formato, com mais qualidade, mas aí meu pc não conseguiu ler. Desisti e me contentei com o audio atrasado. Mas não consegui gravar numa mídia de DVD. Me restou assistir no notebook mesmo.
Achei que fosse me irritar porque o lance não deu totalmente certo, mas acho que me conformei com a má sorte de principante. Finalmente, assisti Réquiem Para Um Sonho do começo ao fim. Quatro anos depois de ter perdido a sessão no Cinusp.
A montagem é incrível, as cenas duplas, o tempo do filme. Me lembrou o jeitão do Ilha das Flores. Coloca você na cabeça das personagens. Você alucina, aliena com elas. A manipulação da imagem é uma coisa de louco. O resultado é um filme pesado, meio sufocante, meio depressivo, meio irritante, meio inacreditável.
Inacreditável aonde a necessidade por aceitação pode levar o ser humano. A história do casal Harry e Marion, e do companheiro Ty é parecida com outras que já vi em filmes como Diário de Um Adolescente ou Cristiane F. Jovens que se veem sem perspectiva e buscam nas drogas a sensação de poder tudo (até ser feliz, imaginem…). Mas, o que mais me impressionou foi a trajetória da “Srta” Sara Goldfardb.
A droga dela foi seu sonho. Sonho por continuar sendo necessária, querida. A pílula mais poderosa que ela tomava todos os dias era a expectativa de aparecer na TV e ser vista por milhões de pessoas. Era isso que a fazia acordar todos os dias, arrumar a casa e esperar pelo futuro. O vício em anfetaminas foi só consequencia desse sonho, que virou loucura, que virou choque e que voltou ao sonho numa cama de manicômio.
Esse não é um filme sobre a decadência da juventude – que, no alto dos meus 23 anos, eu vivo. É pior. É sobre a decadência do sonho. Vide o nome do filme. Réquiem vem do latim e significa algo como uma missa em memória de um morto. O sonho.
Sonhar vale a pena. É uma doença boa. Faz acordar todos os dias e colocar um pé diante do outro e do outro e do outro. O problema está em qual inseto te pica. Você sonha pelo quê?