Tá, vou confessar. Eu assisto ao Big Brother. Depois das primeiras, sei lá, três edições, eu prometi a mim mesma que não assitiria a próxima, que não perderia tempo com isso. Acho que, das 10, só não acompanhei uma (porque os participantes eram visivelmente desinteressantes). Pois é… Faço essa confissão hoje porque me vi pulando e gritando “chupaaaa” quando o Bial anunciou que a Lia estava fora. Eu já acho estranho quando eu pulo e grito quando sai gol em jogo de futebol, que dirá por causa de reality show.
Deve ter muita gente que não confessa, porque pode ser vergonhoso, mas assiste ao Big Brother. E não é por nada, é que a vida alheia é interessante. Bisbilhotar, apontar, julgar… Imagina numa circunstância em que isso é permitido – aliás, em que isso é necessário?!!! O Big Brother só atiça isso em nós. No fim, a gente até se identifica ou demoniza as pessoas que estão lá dentro. É um fenômeno da vida real que a mídia faz acontecer em escala “übercósmica”. Mas minha intenção não é teorizar sobre nada disso. Muitas pessoas já pensaram, analisaram, criticaram, reforçaram e pensaram de novo sobre o fenômeno do Grande Irmão.
É que me incomoda fazer parte desse fenômeno, ainda que de forma mais contida do que outras pessoas – como as que votam em todos os paredões, compram o pay-per-view e vão à Ana Maria Braga traçar conjecturas sobre o BBB 10. Não tanto pela futilidade que o Big Brother pode representar. Vejo coisas tão vazias quanto isso na TV quando tenho tempo – vide o programa Pânico. O que me incomoda é perceber que as tecnologias mediáticas estão nos levando para um panóptico cada vez mais perverso. Eu não filmo o resgate de uma pessoa que se jogou sob os trilhos do metrô ou de uma estudante que é linchada, nem paro o carro pra ver um acidente de trânsito, nem jogo filme de sacanagem caseira (sem autorização dos participantes) na web. Mas assisto ao BBB.
E a tendência é esse fenômeno social crescer, porque, aparentemente, o ser humano deseja isso e, agora, tem em mãos tecnologias que permitem realizar e potencializar esse desejo. Pode ser que, daqui a algum tempo, nem muito, eu nem faça mais esse tipo de questionamento, quando não existir mais fronteira entre o público e o privado. Será? Medo…….
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Ps.: depois dos paredões recordes, em que quase metade da população brasileira tem votado, ouvi mais de uma vez críticas comparando (inversamente, claro) o fenômeno do BBB às eleições. Ao que parece, brasileiro não se mobiliza tanto para eleger seus representantes políticos quanto para tirar alguém da “casa mais vigiada do Brasil”. Será que a consciência e a participação políticas melhorariam se transformássemos a vida política em reality show?
Se a consciência e a participação políticas melhorariam eu não sei, mas acho que a ideia não é boa não… Dourado presidente?