Cultura pop ao alcance das mãos

Semana passada eu chutei o pau da barraca e cometi uma loucura: pintei minhas unhas de amarelo! Sim, amarelo, amarelão, do mesmo tom usado pelas manicures para fazer o desenhinho do miolo da flor, mas um miolo que toma a unha toda. Gostei! Adorei! Tô me sentindo poderosa com as minhas unhas “ousadas” rs. Quase uma libertação.

Mas, quando eu vejo que a repórter que trabalha ao meu lado usa esmalte laranja fluorescente, a que trabalha na diagonal usa rosa-choque, a moça do ponto de ônibus usa verde musgo e a Adriane Galisteu já pintou as unhas dos pés de um amarelo parecido com o meu, vejo que meu nível de ousadia só é grande se comparado a mim mesma. Tá todo mundo usando cores berrantes, tá na moda não combinar e chocar. É cool. E é por isso que eu pintei. Imagina se eu teria essa ideia por conta própria enquanto todo mundo desfilava por aí com unhas cor de “renda”, café ou vermelhas… E se uma tal ideia passasse pela minha cabeça, eu jamais a acharia boa. Esse lance de moda, de tendência e de cópia em série de mãos fluorescentes é, para mim, a expressão mais atual e cotidiana do poder da cultura pop. Transforma consumismo, nonsense e mais-do-mesmo em libertação.

Já estão chamando de Gagaísmo a atitude Lady Gaga, de criar um estilo próprio e causar por aí com suas roupas e seu comportamento. Mas o que eu vejo é os “monsters” criados em torno desse fenômeno reproduzindo o jeito-lady-gaga. O poder maior da cultura pop está na reprodução com aura de unicidade. Porque mesmo que a Lady Gaga ou a Madonna inaugurem a moda de usar orelhas de coelho na cabeça (e fora do contexto de festas à fantasia), VOCÊ é que se sente o máximo quando coloca a mesma orelhinha na cabeça e causa choque entre o seu círculo de familiares e amigos. Nossa, como ela é ousada! Essa é doida, mas tem estilo! Não importa que outros o façam da mesma forma.

Não importa que a pizzaria perto da sua casa tenha os quadros da Marilyn Monroe de Andy Warhol na parede. O que importa é que VOCÊ tem esses quadros na SUA parede (e nem custaram assim tão caro) e que, agora, a parede da sua casa é cool. É a socialização do estilo. A democratização da arte (principalmente do seu sentido). Um jeito de se sentir único numa sociedade consumista, pasteurizada, feita em série.

Eu fui à abertura da exposição do Andy Warhol em São Paulo, na Estação Pinacoteca. Hiiiiiiperlotado! Principalmente de jovens vestindo blusa xadrez, óculos coloridos estilo Bob Dylan e tênis de cano alto da Nike (com as mesmas cores com que as meninas estão pintando suas unhas, as mesmas cores com que Andy Wahrol pintou suas Marilyns). Todo mundo igual (inclusive ao Andy Warhol! Os óculos e o jeitão glam não me enganam!), mas se sentindo diferente. Tão diferentes quanto as latas de sopa Campbells de Warhol são das próprias latas Campbells.

Andy Warhol foi um gênio. Ele conseguiu fazer arte do consumismo, do espetáculo barato do dia a dia. Não sei bem como ele fez isso… Quando eu conheci Warhol, ele já era o máximo e eu já não tinha como discordar. Para mim, quem consegue fazer nome e dinheiro com reproduções de fotografias consagradas e serigrafias, ou com bidês e uma roda de bicicleta (já viram Marcel Duchamp?), merece minha admiração. Se não temos mais nada a criar, que recriemos com estilo aquilo que já existe. A arte está na ideia. E se ela for reproduzida e reproduzida e reproduzida, tanto melhor! Mantém a ideia viva. (Ou será que, assim, não ela se perde, se esvazia?)

Hoje, ela vive pelas roupas, pelos cabelos e pela atitude nonsense de Lady Gaga (ela diz que tem sentido, mas eu prefiro acreditar que não. Assim eu continuo gostando dela). E vive até por meio das minhas novas unhas amarelas…