Minhas Folhas de Relva

percepções do cotidiano em letras livres

“Passeio de índio” – A Biblioteca de São paulo 22/04/2010

São Paulo guarda gratas surpresas. Na verdade, nem deviam ser tão surpreendentes assim. Parece que a gente se acostuma a não prestar muita atenção em obras públicas. Se são obras de caráter cultural então… Parece que nunca vale a pena. Ok. Falo por mim. Nunca botei muita fé nos projetos que o governo estadual estava implementando no Parque da Juventude, onde antes ficava o Complexo Penitenciário do Carandiru, na Zona Norte de Sampa.

Recentemente, descobri que eles criaram um curso técnico em música e artes cênicas, para quem ainda faz o colegial, lá no Parque. Não chequei as dependências do lugar porque a recepcionista me barrou (não me lembro por que razão, mas não tinha razão, pelo que eu me lembre…). Mas gostei do que vi do lado de fora: num pequeno tablado de madeira, três jovens maquiados e com roupas coloridas tocavam violão e ensaiavam alguns movimentos com o corpo. “Bom, alguém deve fazer esse curso. Menos mal”, pensei.

Há algum tempo, a imprensa noticiou uma biblioteca de “padrão internacional” que havia sido inaugurada também nas dependências do Parque da Juventude. Nem dei muita bola a princípio. Mas, depois que vi que no bairro onde eu devo morar em Londres tem uma biblioteca pública que parece uma livraria, pensei que, de fato, a Biblioteca de São Paulo podia ser uma realidade muito bem vinda para os paulistanos.

Na tarde ensolarada do feriado de Tiradentes, resolvi, finalmente, fazer um convite à minha mãe e fomos conhecer a tal biblioteca. Moramos perto do Parque, então fomos a pé, garrafinha de água a tiracolo, uma parada no “Bar do Pescador” para comer uma porção de Lula à dorê, uma Serramalte para acompanhar, uns minutos gostosos de caminhada e conversa. Podem até chamar de programa de índio isso, mas foi um programão para um feriado de meio de semana! E, tá, eu gosto desse tipo de programa mesmo. Satisfação garantida comigo (rs).

O parque estava cheio de gente, todas as quadras lotadas, a pista de skate fazendo sucesso, o parquinho abarrotado de crianças e de pais, jovens, adultos, meia-idade e terceira idade fazendo piquenique na grama. Cena quase bucólica. Sensação boa saber que as pessoas realmente usufruem de um parque público – e cuidam dele! Eu que estava marcando bobeira…

A Biblioteca da Cidade fica na outra ponta do parque, já perto da Av. Cruzeiro do Sul e do metrô Carandiru. Ela é super bonita mesmo! Gostei! Depois de um contratempo burocrático (que merece um post só para ele – leia aqui), entramos na livraria – quero dizer, biblioteca (de fato, parece). Lá, há uma área só para crianças, outra juvenil, ambas bem coloridas. No piso superior, computadores para acessar a internet de graça e sem limite de tempo (o que não devia, mas tem sido um problema…), computadores para assistir aos filmes do acervo (esses você não pode pegar emprestado). O acervo de livros ainda não é muito grande (não me informei sobre quantos, mas deu pra perceber só de olhar), mas faz questão de ter lançamentos e as últimas edições de ótimos livros de literatura brasileira e estrangeira. Há também livros teóricos, almanaques e uma parte só para quadrinhos. Além de um espaço super confortável para sentar e ler a tarde toda.

A minha maior surpresa eu tive quando abri as portas de vidro que ficam no fim do espaço de livros. Elas dão para um terraço incrível, com cadeiras e pufs coloridos, e com vista para a mata do Parque da Juventude! Sério, é bacana mesmo! Legal para levar os amigos e conversar de boa num fim de tarde. Você pode levar os livros para lá também e ler, praticamente, ao ar livre. Um oásis na babilônia ‘loka’.

A segunda maior supresa – mas a mais grata – foi ver crianças folheando livros com uma curiosidade que há tempos eu não testemunhava. E, depois, iam felizes para a fila de empréstimo, para levar o livro para casa por 15 dias. Foi bonito de ver! A terceira, foi ver um jovem de uns 16 anos entrando com sua mochila para fazer trabalho de escola. Em pleno feriado, que fique registrado. Acho que é uma prova de que um lugar fisicamente e energicamente convidativo à leitura faz bastante diferença. E a biblioteca com cara de livraria está conectatada com o que faz as coisas atrativas nos dias de hoje. Nada de bibliotecárias com os óculos caindo na ponta do nariz. Há homens e mulheres (jovens em sua maioria). São educadores. Alguns usam cabelo black power, roupas de hypado e tatuagens pelo corpo. Democracia nas bibliotecas! Ler começa a parecer coisa de gente comum, esquisita, jovem, velha, rica, pobre… como eu, como você.

Não há como entrar e não querer sair com um livro debaixo do braço. E nem como não querer voltar em breve. Já marquei meu retorno para esse domingo. Vai rolar um show de Jazz e Blues. “De grátis”! Começa às 17h e eu já estou imaginando o pôr-do-sol que eu verei depois, daquele terraço, sentada num puf verde-limão, contemplando minha cidade um pouquinho mais apaixonada por ela.

* * *

Em tempo:

Biblioteca de São Paulo
www.bibliotecadesaopaulo.org.br

Av. Cruzeiro do Sul, 2630 (próx. ao Metrô Carandiru)
De segunda a sexta, das 9h às 21h
Finais de semana e feriados, das 9h às 19h

Atenção: leve RG e comprovante de residência! (mesmo que você só queira dar uma olhada, eles exigem que você tenha a carteirinha para entrar. É, aquela questão burocrática que eu falei no começo do post, sobre a qual comentarei em breve).

 

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