Apaixonei-me por uma criança hoje. Isso mesmo. Foi coisa rápida. No tempo entre algumas estações de metrô.
Eu não sou fã de crianças. Já fui. Até os 15 anos eu poderia ter sido babá. Afinal, em festinhas e em finais de semana no sítio, eu brincava e cuidava dos filhos dos outros de graça e bom grado. Mas, de repente, um dia, cansei. Perdi a paciência e nunca mais a encontrei. No máximo por cinco minutos. Daí em diante eu me recordo de que não sei onde a paciência está e devolvo a criança para os pais. Alguns dizem que eu sou má (rs) e que nunca terei filhos. Outros, que eu estou reservando energia e “saco” para os meus… Sei lá.
Só sei que, hoje, foi bonito ver aquele menino moreninho, de uns 5 anos, óculos de grau, cabelinho raspado e roupa de frio meio engomadinha. Ele estava tão empolgado com alguma coisa (eu não consegui ouvir o que era), mexia as mãos, os braços, sentava de um lado, apontava para o outro. Devia estar contando alguma aventura da escola, ou imaginando outras.
Ele tinha uma voz engraçada, fina, mas não feminina. E um jeitão de criança esperta, vivaz, curiosa, inteligente, sonhadora que me cativou. Pensei “quando tiver um filho, quero que ele seja assim”. Opa “quando”??? É, pois é… Acontece (e não é a primeira vez).
O pai (que se parecia enormemente com o filho) colocou-o no seu colo e ouvia atentamente o que ele dizia, como se fossem as melhores histórias e comentários do mundo. Depois de tanto bate papo, o menino simplesmente se aquietou, sentou as pernas dobradas sobre as coxas do pai, abraçou-o e adormeceu. Em segundos, o pai também fechou os olhos.
Ficaram os dois ali, num reduto de calma e paz só deles, em meio ao chacoalhar do metrô paulistano. E eu, admirando aquela cena. Senti que aquele homem não precisava de mais nada no mundo! Aquele devia ser seu maior tesouro. Bateu uma pontinha de inveja boa… Do tipo “ainda quero viver algo assim um dia”.
Segui olhando aquela cena de aquarela até que a voz eletrônica do metrô anunciou a estação Vila Madalena. E eles abriram os olhos.