Achava que ele cabia numa passagem de avião, num ônibus de dois andares ou num quartinho de paredes vermelhas de 10 metros quadrados. Mas ele não cabe em lugar nenhum. Sinto o sonho passar por mim, entrelaçar minhas pernas, correr por entre meus dedos, abandonar a casa, ganhar a rua, as estações, os olhares de milhões de estranhos.
Respiro-o nesse ar gelado, vejo-o nas folhas alaranjadas que, aos poucos, vão cobrindo as calçadas. Sinto-o quando viro a chave, dou um “hello” para aquele quase desconhecido sentado na sala, entro no meu pequeno santuário e lembro que preciso comprar uma saboneteira e um cesto de roupa suja.
O sonho caminha ao meu lado todos os dias e se mistura com o sonho dos outros. Estranhos. Camufla-se na rotina que começa a se construir. Dá um sorriso quando faz um amigo de passagem. Observa mais do que faz. E respira fundo pra capturar o aroma sutil da pura novidade, que pode ser passageira – ou não… Quem sabe o que ou quem esse sonho encontrará na próxima esquina?
Ele nunca será como eu imaginei, nem terá a forma que, um dia, moldei pra ele. Ele não se parece com nada e, como disse, não cabe em lugar nenhum. Esse sonho é o dia após o outro, a renovação de todos os componentes da alma, a frustração pelo inesperado-indesejado, a eterna descoberta, a falta em meio ao transbordamento, a conquista de espaços e pessoas, a concretização de mim (senão de mim – ainda não posso dizer -, certamente dessa vontade latente de sair e ver que raios existe lá fora, e por que o lá fora parece tão mais interessante). Dá pra dizer que isso tem tamanho?
Onde esses passos vão dar?...
Minhas Folhas de Relva 