No meu dia a dia, eu vivo na Turquia, no Paquistão, em Bangladesh, no Afeganistão… Aqui, só tem mesmo cara de Inglaterra quando vou almoçar num pub na esquina, pego um ônibus vermelho de dois andares ou quando chego à minha casa, num bairro típico de subúrbio de Londres: jardinzinho na frente (mal cuidado, sempre!), muro baixo de madeira, cinco degraus que levam à porta de entrada, paredes de tijolinho à vista (desgastados e escurecidos pelo tempo), dois ou três andares, janelas grandes pintadas de branco ou creme. De resto, eu vivo mais é do Oriente Médio pra lá…
A quantidade de mulheres cobertas dos pés a cabeça, de homens usando turbante, tantas pessoas usando as roupas típicas do seu país foi o que mais saltou ao olhos quando cheguei aqui. No meu bairro e em outras vizinhanças de East London (a nossa ZL), a comunidade árabe (ou melhor, islâmica, pra ser mais abrangente e precisa) está em praticamente TODAS as lojas e companhias de taxi… E como é difícil entender o inglês misturado ao jeito deles de falar!!! A princípio achei que fosse culpa do meu inglês em aprimoramento, mas até quem é dessa terrinha “reclama” muitas vezes…
São Paulo também é cosmopolita e multicultural, mas nem se compara. Aqui, as diferentes comunidades que compõem o povo londrino fazem questão de manter e cultivar suas raízes, sua cultura. Em Sampa, as pessoas se misturam mais. Não sei até que ponto essa característica de Londres é positiva ou negativa, pois essas comunidades ficam muito isoladas do resto da população, digamos, ocidental. Quando conversei com uma moça de Bangladesh a respeito, ela me disse que seu povo é orientado a não se misturar. Tem a ver com a religião islâmica, me disse ela, que namora um turco e já está tendo “problemas” na família. Imagine se fosse um inglês branquelo de cabelo de fogo… Assim, Londres fica parecendo, muitas vezes, uma versão micro do Globo, cada país e cada cultura no seu quadrado. Talvez essa seja a sua “unidade”… Segundo o Censo de 2001 (foi o único dado oficial que achei, fazendo uma busca rápida), são cerca de 100 mil árabes e de 600 mil muçulmanos vivendo em Londres. Hoje, certamente, o número já é bem maior.
Apesar de parecer algo hiper normal por aqui, e depois de quase dois meses por essas bandas, ainda me espanto com tudo isso. Com as vestimentas típicas e seus incontáveis panos e véus (para homens e mulheres). Com as longas barbas. Com o jeito “Netinho” de cantar na língua árabe. Com a indiscrição dos homens e a total discrição das mulheres. Confesso: nunca fui atraída por essa cultura. E como assim aquela moça está de burca e usando um Nike???!!!! (que, junto com um belo par de olhos verdes, é a única coisa que eu consigo ver diferente daquele pano preto). Parece que não combina a cultura islâmica com a sociedade liberal e consumista em que eles escolheram viver (exatamente por ser liberal e consumista, e, assim – em tese – oferecer mais oportunidades de “subir na vida” – seja por trabalho ou estudo –, que é o que geralmente atrai muitas das pessoas de países pobres de maioria islâmica ao decidirem tentar a vida aqui).
Sei que esse post pode soar um tanto preconceituoso. E talvez ele seja mesmo. Viver aqui é um esforço diário pra dissolver pré conceitos e desenvolver mais entendimento sobre a diversidade do mundo. Confesso que tenho feito pouco, na prática, pra entender melhor. Por enquanto, estou apenas me acostumando. E, como eu disse antes, ocidente e oriente não se misturam muito por aqui (ainda que, da parte masculina, a mistura seria muito bem vinda, dada a quantidade de cantadas e investidas que já levei). Então, fica mais difícil entender sem conviver. E, contraditoriamente ao fato de que meu bairro é um dos que mais concentram população islâmica de Londres, eu só topei com UMA moça de véu no meu trabalho até hoje. A grande maioria das funcionárias vem da África, da Jamaica ou do Leste Europeu.
Bom… Em novembro, pelas minhas bandas, vai rolar uma semana para promover o entendimento da cultura islâmica. Tô pensando seriamente em comparecer (pior que no dia mais interessante receberei uma amiga da Suíça em visita a Londres e duvido que ela queira passar o sábado em Walthamstow nesse programa de índio…rs. Mas, vai saber…). Se eu não tiver coragem de puxar papo, que eu pelo menos ouça e sinta o clima e consiga começar a sacar quem são eles e como veem o mundo. Afinal, uma coisa é estudar na escola sobre as arábias e o Islã. Outra é notar, no seu dia a dia, quantas diferenças, quantas semelhanças e quanta incompreensão podem existir no espaço entre a barra de uma burca e a barra da minha mini saia…
Olá dona Aline! É verdade, Londres é realmente um caldeirão, mas parece que é só no Brasil mesmo que os ingredientes se misturam de verdade. Lembro de ter visto no metrô de Londres uma mina japa com um inglês branquelo, mas acho que ela tá nem aí pra religião, o que facilita a mistura. E os japoneses / chineses / coreanos, como você os tem visto aí? Beijão!