2046 – Os Segredos do Amor é, acima de tudo, um filme sobre o tempo. Finalmente o assisti, depois de ignorá-lo por meses enquanto estava em cartaz no HSBC Belas Artes; depois de procurá-lo sem êxito em locadoras; depois de ter recebido o filme em DVD de uma pessoa especial; e depois que deixei de ter receio de assisti-lo.
“O amor tem a ver com o tempo em que se passam as coisas”, reflete o personagem enquanto se dá conta de que se apaixonou por uma pessoa no momento errado. Talvez se fosse um pouco antes… Ou bastante tempo depois… Não é cruel estar a mercê do tempo assim?
Já pensei muito sobre isso. E se eu conhecesse de novo aquela pessoa anos depois, quando ela (ou eu) estivesse assim ou assado, não teria dado mais certo? Aliás, já imaginei isso. Um reencontro em outras circunstâncias. Que seria? Que significado o passado teria? Estamos a mercê do tempo e também das nossas escolhas. Uma combinação com a qual nem sempre é fácil lidar.
“O amor tem a ver com o tempo…”. Há pouco mais de três anos conheci uma pessoa especial em circunstâncias curiosas e conturbadas. Uma grande paixão que amadureceu para um amor bastante intenso. Lembro-me que, um dia, deitados no sofá numa tarde de domingo (ou seria manhã? Não importa…), depois de um ano e pouco juntos, ele me disse que se tivéssemos nos conhecido aos 27, nos casaríamos (do tipo juntar as escovas de dentes, claro…rs). Éramos (e continuamos) muito jovens, e tínhamos consciência de que vivíamos um amor que, um dia, seria interrompido. Se não fosse por outras circunstâncias, seria simplesmente pelo fato de que a estrada da vida se abria imensa demais pra ficarmos na mesma pista desde já. Soa estranho, mas é verdade…
“Não é bom encontrar a pessoa certa demasiado cedo ou demasiado tarde”, também disse o personagem do filme. Mas… quando é cedo e quando é tarde? Revisitei aquela conversa no sofá algumas vezes e me questionei… E se? Olhando e relembrando bem, percebo que, de fato, o amor tem a ver com o tempo e, talvez, ele não tivesse tido o efeito e o significado que teve se fosse em outro tempo. Aquele foi um momento incrível! De farra, de bebedeira, de violão, de molecagem, de intensidade, de frescor, de muitas descobertas. E eu não queria, nem por um segundo, que tivesse sido diferente. Nem aos 27. Isso implicaria não ter vivido o que vivi.
Hoje tenho 23 e estou noutro tempo e lugar. Já tentei entender por que, de fato, escolhi vir parar aqui, do outro lado do oceano, no “centro do mundo”. São muitos os motivos. Nem sempre todos fazem sentido. “Se eu tivesse vivido noutro tempo ou lugar, a minha história poderia ter tido um final muito diferente”, foi a frase derradeira daquele personagem naquela sequencia de reflexões. Depois de visitar 2046, entendi que estar onde estou tem muito a ver com desafiar nosso tempo e lugar, pra ver o que pode mudar na nossa história. Ainda que isso possa ser um tanto ilusório, pois Tempo e Espaço devem estar muito além de fronteiras geográficas e fusos horários e muito além de nossos planos e escolhas conscientes, eu não poderia prosseguir sem tentar.
Aaahhh… esqueci de dizer que esse é mesmo um filme incrível. A história sobre o Amor sai da banalidade com a forma como Kar Wai a conta. As falas simples, mas cheias de sentido; as tomadas (sobretudo as tomadas! A câmera te leva para uma outra dimensão do texto); o contraste entre a serenidade oriental e a intensidade dos sentimentos vividos pelos personagens. Realmente, muito bom!!! Melhor ainda que Um Beijo Roubado
=) Bom, devo começar dizendo que gostei do que li. Claro, primeiro você escreve muito bem, segundo: ainda continuo com a opinião de que este filme é o melhor de todos que já vi. Terceiro e não menos importante é um filme tocante sobre a vida e sobre o tempo.
O revi tem pouco tempo e de fato 2046, é o universo criado onda os desejos e as vontades do cara no presente são projetadas….genial…2046 é o tempo espaço das possibilidades do futuro às quais você se refere muito bem. Como eu poderia não gostar dele?…e como e poderia não gostar que você o visse neste momento de sua vida? e como eu poderia não gostar das suas reflexões?
Há uns anos atrás conheci um cara maravilhoso que mudou e muito a minha vida….chamava-se Mirco, e fez com que eu fosse fazer Física e tentar resolver minhas angústias…mas não o cito para dizer que minha vida mudou muito por causa dele…pois o acaso permeia tudo. O cito por uma coisa que ele disse nesses anos anteriores e que me recordo até hoje. Ele virou para mim em uma aula e simplesmente perguntou: “que que você acha que é o tempo?” absurdo instantâneo… tempo..oras tempo…tempo é tempo….E veio mais uma pergunta “você acha que o tempo existe mesmo? e que é esse negócio que as pessoas tem no pulso?
Depois complementou a discussão… tempo é uma invenção como forma de medir mudança (e isso me lembro muito fortemente e a vida mostra isso) e ele continuou. “Por conta disso é uma quarta dimensão do próprio espaço, pois as coisas só existem no seu espaço e tempo. Mas para Buda, por exemplo, independente do tempo e espaço e da mudança continuamos com nossa essência, continuamos de certa forma, sendo nós mesmos..por isso o tempo não existe”
Não preciso dizer que me recordo deste comentário ao ler o seu texto pois você foi precisa do ponto de vista Físico e foi feliz nas reflexões. Fica a dúvida, ou a escolha… o tempo existe ou não.
Hoje continuo dividido entre Buda e a Ciência… mas ainda tenho plena certeza de que se vive se vive..tempo e espaço.. o que se pode viver são outros quinhentos..
Beijo enorme