Semana passada eu, finalmente, visitei o Natural History Museum of London, o Museu de História Natural de Londres. Fica num gigante e antigo e belíssimo edifício em Holborn, na região leste do centro da cidade. Confesso que havia criado algumas expectativas em torno do museu e fiquei um tanto decepcionada quando vi qual era a do T-Rex, uma das principais atrações. Eu esperava uma réplica em tamanho natural do esqueleto do bichão, imponente. Mas o que vi foi uma recriação em movimento do dinossauro todo, que não me pareceu tão temível assim…
A verdade é que a reputação do T-Rex criou na minha mente (e acho que na de quase todo mundo) uma imagem maior e mais aterrorizante do que aquele predador realmente era. Não é culpa do museu… rs. Tudo bem, gostei mais do esqueletão do Diplodocus-alguma-coisa, ou “Pescoçudo”, que sempre foi meu dinossauro favorito, devido à minha fixação pelo Littlefoot em “Em Busca do Vale Encantado” (assisti ao filme no mínimo umas 50 vezes durante a minha infância e chorei em todas elas. Chorei até quando apenas ouvi a música tema do filme, e olha que não faz muito tempo).
Dinossauros famosos à parte, o museu é uma experiência muito bacana pra ter uma noção real das coisas da natureza (por exemplo, o tamanho de uma baleia azul), fazer uma viagem ao passado pré-histórico, conhecer espécies que você nunca veria no seu país, nem mesmo no zoológico, aprender detalhes de como as coisas funcionam na natureza e para quê elas servem. Mas o que achei mais interessante foi o espaço dedicado a mostrar ao espectador como algumas das milhares de informações disponibilizadas no museu foram levadas a público. Por exemplo, o estande que mostra, de forma rápida, mas completa, o que é necessário fazer para descobrir, preservar e catalogar um fóssil.
Essa perspectiva, de desvendar a nós mortais o mundo das descobertas científicas, fica ainda mais evidente no espaço chamado Cocoon (casulo, em inglês). Eu fiquei simplesmente maravilhada! Cocoon é um edifício em forma de casulo mesmo, de sete andares, onde trabalham pesquisadores e técnicos do Darwin Centre, um centro de pesquisas focado em insetos e plantas, que abriga 20 milhões dos 70 milhões de espécimes do Natural History Museum. É como um acervo de pesquisa, utilizado pelo centro e por pesquisadores do mundo todo. A exposição estende a mão de forma delicada e convidativa para te convencer de que a Ciência não precisa ser chata nem muito complicada de entender. Aliás, quer te convencer de que a Ciência é, sim, fascinante! E essencial para que compreendamos a realidade que nos rodeia, sobretudo nesses tempos assombrados pelas consequências das mudanças climáticas.
Com o auxílio de vários recursos multimedia (de alta qualidade, por sinal), você é apresentado aos curadores da exposição, que contam sua história de fascínio pelo mundo das borboletas, das plantas, das aranhas e outras coisas mais; vê como as amostras são tratadas e catalogadas; conhece o caminho do artigo científico até ser publicado; e pode até participar de uma expedição para algum lugar remoto do mundo na companhia de alguns dos pesquisadores do centro. Isso para dar alguns exemplos. No dia em que eu estive lá, não pude ver nenhum cientista trabalhando ao vivo, mas existem espaços onde eventualmente você pode vê-los em ação e até microfones para que o público se comunique com eles. Isso é que é exemplo de divulgação científica: acessível, interessante e que desvenda os caminhos da ciência ao invés de apenas se ater a fatos, resultados e meras curiosidades.
Há algum tempo atrás, um colega jornalista muito ligado em Ciência lançou no Facebook uma campanha por um Museu de História Natural em São Paulo. Agora, mais do nunca, eu assino embaixo. Porque, mais do que dinossauros e outras curiosidades do mundo natural, um museu como esse tem o potencial de plantar nos seus visitantes a sementinha da curiosidade e da sede pelo conhecimento. Vi tantas crianças se divertindo nesse museu e fiquei imaginando o quanto uma experiência como essa pode abrir horizontes para elas… Os jovens no Brasil precisam de estímulos assim. Bom, em São Paulo nós temos alguns museus de cunho científico, como o Catavento, mais recente. Mas, ainda assim, achei que o Natural History Museum está a anos luz em termos de como comunicar ciência.
Talvez, se eu tivesse visitado uma exposição como aquela anos atrás, teria me decidido de vez pela Biologia quando a dúvida pintou. Mas, há seis anos eu fiz a minha escolha de fato, pelo jornalismo, ainda que flertando sempre com o universo das biológicas. No meu caso, aquela sementinha de que falei foi plantada há muito tempo. Mas posso dizer que a experiência no Natural History Museum fez o bom favor de regá-la, depois de um tempo longe das notícias científicas. Enquanto estava na Coccon, fiquei pensando se há algum jornalista por trás dos textos e vídeos que dialogam (tão bem) com o público… E, entre todas as possibilidades de atuação profissional na área de divulgação científica em que já pensei, agora somei mais uma: ajudar na curadoria de um museu de ciência. Quem sabe não será no Museu de História Natural de São Paulo? 😉