“E o passado é uma roupa que não nos serve mais.”
Essa frase faz parte da letra de uma música do Belchior, Velha Roupa Colorida. Mas não foi por causa da tal canção que descobri essas palavras. Enfim, as circunstâncias não importam muito. Mas há quanto tempo importa. Faz quase um ano. Importa porque, só agora é que eu acho que compreendi a importância de reconhecer essa frase.
No ano passado, de Setembro a Dezembro, me vi muito apegada às lembranças. Toda vez em que me sentia triste ou solitária, eu tomava uma carona na memória e me perdia relembrando momentos com amigos, família, ex namorados… Parecia bastante reconfortante, mas depois de um tempo começou a me atrapalhar. Parecia que eu não vivia o presente direito. O passado virou uma espécie de muleta e eu fiquei um pouquinho manca no meu andar por aqui. Saquei, então, que eu estava fazendo isso pra me fazer lembrar da Aline que deixou o Brasil há quase 5 meses atrás. Fazer isso me dava a impressão de manter o tempo congelado para ele voltar a tic-tac-quear a partir daquele ponto (ou de algum outro ponto do passado) quando eu voltar pro meu País-lar. Que besteira…
Eu continuo sendo tudo aquilo que eu fui até 28 de Agosto de 2010. Simplesmente porque faz parte de mim, ainda que eu já não seja mais a mesma. Faz parte, inclusive, do por que estou aqui, distante daqueles que busco nas minhas lembranças. Mesmo que estes também não sejam mais os mesmos. Não posso esperar que as coisas sejam exatamente como já foram, porque elas não serão. Já não eram e já não são. Isso não significa algo negativo. Diferentes, ponto. E podem ser melhores. Só não vale ficar esperando COMO elas serão. É, maldito bendito Tempo… “Time may change me, but I can’t trace time”, já dizia David Bowie em uma de minhas músicas favoritas, falando sobre mudanças. I can’t trace time, viu? Por isso, reafirmo: a palavra expectativa está riscada do meu vocabulário (ainda que eu ainda a possa ler sob o risco, não quero ousar usá-la de novo).
Aquela roupa colorida está dobrada, sem passar (pra manter o frescor das pessoas e dos momentos que a vestiram), e bem guardada no meu Olimpo da mente. Mas, como diz a música com que iniciei esse post, ela já não serve mais pra eu vestir no momento presente. No dia 1º de Janeiro de 2011 eu me desnudei. E não há roupa que me caiba agora porque eu ainda não sei o meu tamanho. Mas me dei conta de que tenho costurado, aos poucos, desde 2010, um retalho aqui, um tecido novo ali, um adorno acolá, botões, zíperes, velcros… E comecei 2011 assim, moldando a minha própria roupa nova.