Minhas Folhas de Relva

percepções do cotidiano em letras livres

Aos poucos…tudo 31/07/2011

Filed under: Cotidiano,Intercâmbio,London — Aline Moraes @ 12:20 PM

Eu ando por essas ruas dizendo a mim mesma que, logo logo, não caminharei mais por elas. Sorrio e fixo bem a imagem de cada esquina de Walthamstow, ainda que eu não goste do bairro e que o caminho pro trabalho não tenha nada de especialmente bonito. Comecei a fazer o mesmo em outros lugares. Semana passada, levei uma das minhas service users a Southbank. Estava um dia lindo, ensolarado, um monte de gente passeando à beira do Tâmisa. Olhei bem pr’aquilo tudo me dando conta, ainda que com alguma recusa (já que aquele pedaço é bem mais bonito que Walthamstow rs), de que, agora, é hora de emoldurar minha Londres na memória. Tenho, assim, me despedido lentamente da cidade. Também estou empacotando aos poucos, jogando fora o que não cabe ou não é necessário. Não quero ver o quarto vazio e a mala cheia de repente. Aos pouquinhos o processo é mais fácil. Parece. Será?

Ontem, eu me derreti em lágrimas depois que deixei o Wanja na estação, correndo pra ele não perder o trem. Não foi nada fácil. Mesmo a gente tendo se visto várias vezes nesse mês e mesmo ele tendo passado comigo e com amigos em comum os últimos dias em UK – uma despedida aos poucos. A última ida ao workshop de meditação, a última vez juntos na Victoria line, a última noite hospedado na minha casa, o último café da manhã, a última taça de vinho (“South African!”)… sem grandes firulas. Mas eu queria ainda a despedida formal, a derradeira, e repetir todas as coisas que eu já havia dito pra ele ao longo desses dias e de outros. Despedida à brasileira, longa e cheia de rasgação de seda, como ele diz que não gosta rs. Não deu.

Corri pra subir a escada e entregar a mala que eu estava carregando a tempo de a porta do vagão não fechar. Foi só um leve acenar e… tchau. Nem pude dar um abraço. Putz, não deu pra segurar. Ali bateu a noção de que me despedir do “pedaço” que há de mim nas pessoas mais queridas – e também na casa, no trabalho, nos lugares – será foda. Sou grata por eles levarem um pouco de mim com eles. Levem mesmo! Quero me espalhar. Mas esse desgarrar é por demais dolorido, como eu não esperava que seria. Não agora.

Sentei no banco do ponto de ônibus ao lado da estação e chorei, incrédula, como se a despedida fosse uma grande surpresa. Sentei nos degraus da porta da frente de casa e chorei no colo da Gina e da Joanna enquanto a ficha caía. E foram lágrimas de pura emoção, de intensidade, de verdade. Eu vivi isso aqui! Essa experiência é minha e eu sou de tudo e de todos aqueles que aceitaram caminhar de mãos dadas comigo e não as soltaram. Ainda que no meu andar trôpego, excessivamente preocupado de sempre.

Pra quem achava que não ia chorar as ver aquele amigo partir, porque já estava, sei lá, preparada (ou conformada), ganhei olhos vermelhos e inchados como há muito eu não via refletidos no espelho. Percebi, então, que será também aos poucos que empacotarei as lágrimas. Mas que não existe “aos pouquinhos” nesse processo. Nem visitas, churrascos, cervejas, bate papos, brincadeiras, sorrisos e piscadelas suficientes até que a necessidade disso se esgote. Essa mala se faz e se desfaz a cada instante. Nela, só cabe tudo, de uma vez, todas as vezes.

 

One Response to “Aos poucos…tudo”

  1. Cintia Pedra Says:

    Entendo perfeitamente todos esses sentimentos… odeio partir e adoro chegar! Mas a vida tambem se faz nas despedidas e as lembrancas e memorias adquiridas nas bandas de ca, essas… voce tera sempre! Entao, thanks for the memories!!!!

    =)


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