Minhas Folhas de Relva

percepções do cotidiano em letras livres

Guerra de Opiniões 12/02/2012

Filed under: Comportamento,Cotidiano — Aline Moraes @ 11:33 AM
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É difícil segurar, não é? Quando você sabe de algo e ouve a pessoa ao lado falando asneiras. Ou quando percebe que seu interlocutor percebeu tudo errado, entendeu tudo errado. Parece um alien crescendo dentro de você, até rasgar suas entranhas e sair pela garganta como uma bala de bazuca. Opiniões, opiniões, opiniões… São tudo opiniões. Algumas embasadas, com firma registrada e reconhecida em três vias. Outras, recém nascidas. Outras desconhecem a razão, nasceram e se criaram de puro sangue e víscera. Mas todas baseadas nas verdades de cada um.

Criamos discussões para ouvir o eco de nós mesmos, não pelo que o outro tem a dizer. É quase um esporte: o objetivo é testar a argumentação até que sua opinião empurre a bola, o seu adversário e o resto do time rival para dentro do gol. Fim de jogo. Ou, quando as discussões são criadas, ficamos inquietos na cadeira até conseguir uma brecha para disparar “eu acho”s, “eu li”s, “eu estudei”s, “eu vi”s e entrar no jogo. Adoramos essa fogo cruzado de palavras, nossas armas e nossos escudos contra a ignorância alheia. Óh!

Por muito tempo, eu evitei entrar em discussões sem munição. Achismo, para mim, não valia. Só abria a boca quando minhas palavras estivessem cheias de verdade. E aos 20 e pouquinhos anos, eu não tinha muita verdade em mim. A vida mostra que somos seres insignificantes fora de nossos castelos de areia. E para não sucumbir, fui aprendendo a achar… aprendendo a descobrir sentido em poucos segundos sobre aquilo no qual eu nunca havia pensado… Afinal, não podia ficar fora do jogo, fora da conversa, fora do holofote em destaque no palco.

Mas comecei a perceber que esse jogo é muito chato quando não se deixa a bola rolar. Não há faltas, não há recomeços no meio de campo, nem expulsões, nem jogo acirrado, nem empate, nem viradas. O jogo já começa com o placar determinado. Ninguém convida para uma partida com as palavras se não tiver certeza de que vai vencer. Não é o jogo em si, a arte da discussão, que conta.

Dia desses, colocaram na mesa o assunto da nova cerveja Duff, inspirada no suco de cevada consagrado pelos Simpsons. Pô, a menina veio contar, toda contente, que havia experimentado e que achou a nova marca muito boa, meio amarguinha, mas diferente da Heineken. Mal ela terminou de falar, lá fui eu dizer que não gostei exatamente por ela não ser amarga o suficiente. E a moça soltou “Ah é, Aline… Você que curte bastante cerveja, né?…”. E a conversa morreu ali. Quem, de fato, ligava para a minha opinião??? Aquilo não era uma discussão entre degustadores. A moça só queria contar que experimentou e gostou. Mas eu, como uma futura entendida (com certificado) no ramo, tinha que abrir a boca e disparar e ser do contra.

Resolvi escrever sobre esse assunto hoje porque estava conversando com meu pai sobre HUMILDADE e admiti que, quando estão em jogo palavras e ideias e argumentos e opiniões, eu subo no salto muitas vezes. Aquela que não tinha muita verdade em si mesma aprendeu com muitos Luis XIV por aí que é preciso ter sempre uma palavra engatilhada na boca, que o silêncio é sinal de fraqueza. Às vezes, pode até ser… Mas na boca daqueles que têm muito a dizer, o silêncio se torna a arma do discurso mais poderosa. A palavra sábia é humilde. As palavras certeiras esperam a sua vez.

 

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