Reza a lenda que, quando eu tinha uns três anos, passei pelo meu primeiro teste cego. Meu pai molhou o bico da mamadeira no guaraná e outro na cerveja. Adivinha qual eu escolhi??? Acho que foi ali que começou minha paixão pelo suco de cevada.
Virei expert em preparar cerveja. Buscava a latinha trincando de gelada, abria o lacre (sentindo o prazer daquele barulho inaugurador) e salpicava o entorno da abertura com sal. Um pouco eu deixava cair dentro da lata. Era assim que meu pai gostava de beber. Era o nosso ritual. Às vezes, ele despejava o líquido de ouro no copo e me deixava beber a espuminha. Lembro como era gostoso molhar meus lábios naquilo, um misto de salgado e amargo que não intimidava o meu paladar de criança. “Opa! Opa! Só a espuminha…!”, dizia meu Papis quando eu virava o copo um pouquinho demais. “Isso só quando você fizer 15 anos”.
Não lembro quando foi meu debut, mas tenho certeza de que foi com meu pai. Sei que meu primeiro porre não foi com ele (e nem de cerveja), mas já ficamos bêbados juntos e, por mais que pareça politicamente incorreto, gosto de partilhar essa contravenção com meu pai. Acho que poucos filhos (e, principalmente, filhas) tiveram e mantêm esse prazer.
No dia em que fizemos o Curso de Degustação e Cultura Cervejeira, o Sr. Franklin contou, de forma resumida e à sua maneira, essa história na hora de se apresentar. Falou mais de mim do que dele. Antes de qualquer coisa, ele ali era o pai daquela moça de cabelos cacheados e que gosta de cerveja desde pequena. Pelo seu olhar, o sorriso triunfante deixado escapar entre as palavras e os gestos sempre se inclinando para mim, pude perceber o quanto ele se orgulha dessa ligação entre pai e filha.
Agora, a paixão que partilhamos ao longo de uns 22 anos está virando amor. Não é assim nos relacionamentos, quando aquele furor, aquela ânsia pela pessoa amada vira algo mais profundo, com mais significado? Sim, eu tomo cerveja de forma apaixonada, em festinhas, em churrascos à beira da piscina, na praia. Tomo aos montes, se for o caso, como se fosse o último dia com ela. A paixão é tanta que não coube em mim, certa vez, e chamei o hugo em plena mesa do boteco (depois de caprichar na cervejada das 20h às 5h da matina…). Mas também sei apreciar aquela cervejinha única, dar um gole demorado e beber uma só, se for o caso (e se for importada ou especial, claro hehe).
Bebericar 11 rótulos diferentes durante três horas e não ficar nem um pouquinho alegre (já que, juntos, os copinhos de degustação não chegaram nem perto de uma pint) não foi nenhum sacrifício, portanto. Era sinal de um relacionamento mais maduro com a cerveja, baseado na admiração, na valorização da beleza interior, da arte de misturar maltes, lúpulos e leveduras… Pura poesia! Agora eu até sei que uma cerveja pode ter aroma de biscoito e, ao mesmo tempo, sabor amargo! Sim, pois é, pois é, pois é! Quer saber qual é??? Fica para o próximo post 😉
Gostei muito de seu relato sobre sua primeira degustação de breja. Só vc mesma pra ter essa atenção e escrever tanto sobre o assunto. Agora um monte de gente ficará sabendo como e abastecer um filho . Como história que descobrimos , esse liguido era melhor que água e foi descoberto por uma mulher. incrível!!!
Tenha um bom dia Beijão
Que bom que gostou, Papis! Aguarde que ainda escreverei mais posts sobre a nossa experiência! Beijos!!!
Aline ficou incrivel tudo que vc colocou em seu blog, Historias que ficariam no twmpo , agora registrado de uma forma diferente.
Obrigado por valorizar nossos encontros de muota alegria e cerveja tbm Beijao bem grande! !!!!!!