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Crise de pânico. Causa: felicidade em excesso 23/03/2012

Filed under: Comportamento,Cotidiano,Saúde — Aline Moraes @ 11:19 PM
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Que bizarro dar, como causa de uma crise de pânico, o seguinte diagnóstico: excesso de felicidade. Isso existe???! Hein, isso existe??? Foi a conclusão a que eu cheguei dias atrás, para a crise de uma amiga. Quando vai tudo bem na vida de uma pessoa – ela tem um emprego que a satisfaz, faz a pós-graduação que sonhou, se dá bem com os velhos e novos amigos, vive com o amor da sua vida -, o que raios pode desencadear uma crise de pânico????

Vamos lá, busquei no site da Scientific American a definição dessa so called síndrome que chega a ser considerada uma doença:

O ar parece faltar, o coração fica acelerado, o suor empapa a roupa. Esses são apenas alguns sintomas de uma crise de síndrome do pânico, também caracterizada por boca seca, tremores, tonturas e um mal-estar geral, acompanhados pela sensação de que algo terrível irá acontecer. A pessoa sente que pode morrer ou enlouquecer nos minutos seguintes.

Esse transtorno é causado pela chamada ansiedade patológica. De acordo com os psicólogos, a ansiedade é um estado emocional natural, e é completamente normal o sentimento de querer antecipar o futuro para evitar perigos ou tentar controlar danos. O problema fica caracterizado quando essa ansiedade começa a causar sofrimento demais para a pessoa. A preocupação culmina nas crises, e a pessoa fica ainda mais ansiosa porque não sabe quando a próxima irá acontecer.

Geralmente, a síndrome do pânico acontece no começo da vida adulta, e aparece em situações de estresse, como pressões no trabalho, no casamento ou na família, em que a pessoa se sente desamparada. É claro que um único episódio de crise de ansiedade não caracteriza a síndrome do pânico, mas crises repetidas levam ao desenvolvimento do transtorno.”

Foram exatamente esses os sintomas que minha amiga sentiu. De fato, ela é uma pessoa que sofre por antecipar o futuro, como a maioria das pessoas. Talvez mais do que algumas, e sofre tanto quanto eu. Com a diferença de que não se pode dizer que sua angústia, seu medo do futuro venha de desamparo. Pelo contrário. Nunca a vi tão completa na vida. Você já deve ter ouvido falar nas expressões  “copo meio vazio” e “copo meio cheio”. Deve haver também a opção “copo transbordando”.

Isso tudo me lembrou um suplemento-laboratório que minha turma de jornalismo fez na faculdade. Chamava-se Claro! Depressão e a foto da capa era uma moça exibindo um sorriso falso, que só existia porque havia duas mãos esticando a boca para cada lado, forçando a carinha sorridente. A nossa ideia, com a capa e o suplemento, era discutir como nossa sociedade – contemporânea, pós-moderna e übber qualquer coisa – exige que sejamos felizes a qualquer custo.

Quando eu falo no “excesso de felicidade” como causa de uma crise de pânico, falo nessa exigência de perfeição. Não basta a minha amiga estar indo tão bem em todas as esferas da vida. Ela ainda tem que se preocupar em como não deixar o felizômetro cair. Curtir a felicidade??? Pra quê…. Aí ela vai acabar perdendo tempo que seria útil para planejar como fazer pra ser ainda mais e mais feliz. Mais bem sucedida, mais bonita para o namorido, mais inteligente, mais interessante…

Que mundo é esse que não deixa as pessoas saborearem as suas conquistas, com medo de perdê-las no instante seguinte???! E nem estou falando no medo, no estresse, na ansiedade extrema que culmina numa crise de pânico. Estou falando no medo cotidiano que todos sentimos, de alguma forma, de perder o emprego sem aviso prévio, de não encontrar o amor da vida, de sentir-se só no meio desse monte de gente, de não ganhar dinheiro, de não ser aceito, de ser feio, de ser gordo, de ser estranho, de ser sem graça…

Não é justo. Não é justo que tudo nesse mundo ocidental conspire para que vivamos quase que exclusivamente para o dia seguinte. Não é justo que a sociedade gere tantas expectativas sobre nós. E não é aceitável que a gente se deixe convencer pelo discurso do sucesso. Felicidade boa é aquela que liberta. O que eu vejo por aí, e vi na minha amiga, são pessoas presas pela necessidade de serem felizes. Falta aprendermos o que é contentamento: aquela satisfação interna que independe das circunstâncias. Tudo o que é demais intoxica.

 

3 Responses to “Crise de pânico. Causa: felicidade em excesso”

  1. Nana Queiroz Says:

    hum… será que conheço essa pessoa? rs

  2. Nana Queiroz Says:

    Adorei essa parte: “Ela ainda tem que se preocupar em como não deixar o felizômetro cair. Curtir a felicidade??? Pra quê…. Aí ela vai acabar perdendo tempo que seria útil para planejar como fazer pra ser ainda mais e mais feliz. Mais bem sucedida, mais bonita para o namorido, mais inteligente, mais interessante…”

    E sabe que estou lendo um livro ótimo sobre o medo. É de um neurocientista e psicoterapeuta de Harvard, ele discute muito essa questão do medo cotidiano de que você falou. Depois me lembra de te mandar que tenho em PDF

    • Aline Moraes Says:

      Minha mãe está lendo um livro sobre psicologia do medo, escrito por um psiquiatra de Paris. Vou pegar com ela e depois podemos trocar mais figurinhas. Ah sim, superaceito o PDF do livro!


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