Que bizarro dar, como causa de uma crise de pânico, o seguinte diagnóstico: excesso de felicidade. Isso existe???! Hein, isso existe??? Foi a conclusão a que eu cheguei dias atrás, para a crise de uma amiga. Quando vai tudo bem na vida de uma pessoa – ela tem um emprego que a satisfaz, faz a pós-graduação que sonhou, se dá bem com os velhos e novos amigos, vive com o amor da sua vida -, o que raios pode desencadear uma crise de pânico????
Vamos lá, busquei no site da Scientific American a definição dessa so called síndrome que chega a ser considerada uma doença:
O ar parece faltar, o coração fica acelerado, o suor empapa a roupa. Esses são apenas alguns sintomas de uma crise de síndrome do pânico, também caracterizada por boca seca, tremores, tonturas e um mal-estar geral, acompanhados pela sensação de que algo terrível irá acontecer. A pessoa sente que pode morrer ou enlouquecer nos minutos seguintes.
Esse transtorno é causado pela chamada ansiedade patológica. De acordo com os psicólogos, a ansiedade é um estado emocional natural, e é completamente normal o sentimento de querer antecipar o futuro para evitar perigos ou tentar controlar danos. O problema fica caracterizado quando essa ansiedade começa a causar sofrimento demais para a pessoa. A preocupação culmina nas crises, e a pessoa fica ainda mais ansiosa porque não sabe quando a próxima irá acontecer.
Geralmente, a síndrome do pânico acontece no começo da vida adulta, e aparece em situações de estresse, como pressões no trabalho, no casamento ou na família, em que a pessoa se sente desamparada. É claro que um único episódio de crise de ansiedade não caracteriza a síndrome do pânico, mas crises repetidas levam ao desenvolvimento do transtorno.”
Foram exatamente esses os sintomas que minha amiga sentiu. De fato, ela é uma pessoa que sofre por antecipar o futuro, como a maioria das pessoas. Talvez mais do que algumas, e sofre tanto quanto eu. Com a diferença de que não se pode dizer que sua angústia, seu medo do futuro venha de desamparo. Pelo contrário. Nunca a vi tão completa na vida. Você já deve ter ouvido falar nas expressões “copo meio vazio” e “copo meio cheio”. Deve haver também a opção “copo transbordando”.
Isso tudo me lembrou um suplemento-laboratório que minha turma de jornalismo fez na faculdade. Chamava-se Claro! Depressão e a foto da capa era uma moça exibindo um sorriso falso, que só existia porque havia duas mãos esticando a boca para cada lado, forçando a carinha sorridente. A nossa ideia, com a capa e o suplemento, era discutir como nossa sociedade – contemporânea, pós-moderna e übber qualquer coisa – exige que sejamos felizes a qualquer custo.
Quando eu falo no “excesso de felicidade” como causa de uma crise de pânico, falo nessa exigência de perfeição. Não basta a minha amiga estar indo tão bem em todas as esferas da vida. Ela ainda tem que se preocupar em como não deixar o felizômetro cair. Curtir a felicidade??? Pra quê…. Aí ela vai acabar perdendo tempo que seria útil para planejar como fazer pra ser ainda mais e mais feliz. Mais bem sucedida, mais bonita para o namorido, mais inteligente, mais interessante…
Que mundo é esse que não deixa as pessoas saborearem as suas conquistas, com medo de perdê-las no instante seguinte???! E nem estou falando no medo, no estresse, na ansiedade extrema que culmina numa crise de pânico. Estou falando no medo cotidiano que todos sentimos, de alguma forma, de perder o emprego sem aviso prévio, de não encontrar o amor da vida, de sentir-se só no meio desse monte de gente, de não ganhar dinheiro, de não ser aceito, de ser feio, de ser gordo, de ser estranho, de ser sem graça…
Não é justo. Não é justo que tudo nesse mundo ocidental conspire para que vivamos quase que exclusivamente para o dia seguinte. Não é justo que a sociedade gere tantas expectativas sobre nós. E não é aceitável que a gente se deixe convencer pelo discurso do sucesso. Felicidade boa é aquela que liberta. O que eu vejo por aí, e vi na minha amiga, são pessoas presas pela necessidade de serem felizes. Falta aprendermos o que é contentamento: aquela satisfação interna que independe das circunstâncias. Tudo o que é demais intoxica.
hum… será que conheço essa pessoa? rs
Adorei essa parte: “Ela ainda tem que se preocupar em como não deixar o felizômetro cair. Curtir a felicidade??? Pra quê…. Aí ela vai acabar perdendo tempo que seria útil para planejar como fazer pra ser ainda mais e mais feliz. Mais bem sucedida, mais bonita para o namorido, mais inteligente, mais interessante…”
E sabe que estou lendo um livro ótimo sobre o medo. É de um neurocientista e psicoterapeuta de Harvard, ele discute muito essa questão do medo cotidiano de que você falou. Depois me lembra de te mandar que tenho em PDF
Minha mãe está lendo um livro sobre psicologia do medo, escrito por um psiquiatra de Paris. Vou pegar com ela e depois podemos trocar mais figurinhas. Ah sim, superaceito o PDF do livro!