Eu vejo as suas cores verdadeiras, é por isso que eu te amo, então não tenha medo…
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Era uma tarde ensolarada de primavera. E os dias de Sol são ainda mais bonitos em Londres . A gente caminhava por uma avenida já perto da casa dela e repleta de árvores. Caminhando por entre elas, chega-se a um lago. Um pequeno refúgio em Leytonstone, na zona leste da capital inglesa.
Denise gostava quando eu cantava para ela. Música é o que a animava, apesar da depressão crônica. Ela tinha CDs e mais CDs. Eu a levava a shows, a musicais, dançava com ela. Música era o que fazia seus olhos brilharem, apesar do sorriso sempre meio ácido. Música…
Eu nunca vou me esquecer daquela tarde. Na volta para casa, depois de um dia de passeio sem grandes emoções, resolvi cantarolar as únicas frases que eu conhecia da música. Cantarolei pensando nela. “And I see your true colors shining through. I see your true colors, that’s why I love you, so don’t be affraid to let them show your true colors. True colors are beautiful like a rainbow…”. E tudo ficou mesmo mais colorido.
Com aqueles versos, que cantei com paixão, apesar da voz baixinha por estar no meio da rua, arranquei o sorriso mais sincero de Denise. Sem acidez. Ali eu a vi de verdade. Ela cantou comigo. Cantou mesmo! Cantou como se não tivesse problemas de fala. Denise tem deficiência intelectual. Demorei quatro meses para conseguir entender o que ela dizia, o que ela queria. E, naquele dia, eu a entendi perfeitamente. A música falou por nós.
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É a lembrança mais linda e mais pura que eu tenho do meu um ano vivendo em Londres e trabalhando na ONG Outward, que dá apoio a jovens adultos e idosos com deficiências intelectuais. Foi uma lição de vida e de amor.
O poder da música: possibilitar a comunicação de almas 🙂