Empacotei as coisas hoje. Não, ainda não é dia de carreto, mas como toda mudança comigo é gradual, o quarto já está quase vazio. Lá se foram as cervejas tão adoradamente colecionadas, os livros, alguns poucos CDs e DVDs, as relíquias reunidas desde 2005, fotos antigas, alguns singelos recados em papel, mimos de Londres e da Europa.
Embalei também muitas recordações. Sem caixa de papelão nem fita crepe. Percebi quanta coisa eu havia juntado desde 2008, ano em que a família se mudou para o apê em Santana. Quanta coisa eu havia guardado com medo de esquecer. Reabrindo os pacotes já empoeirados, fui implacável, joguei a maioria da papelada fora. Não sem antes dar aquela olhada em cada coisa, absorver delas o cheiro do tempo.
É nessas horas de mudança que percebemos que a vida não precisa de muito espaço. Aquilo de que eu necessito já está comigo. Alguns pequenos detalhes que se desmancham com o passar dos anos podem ser refeitos com essa olhadela no passado. E são suficientes. Aspirei aquelas memórias para durarem para sempre. E a carcaça que delas sobrou vai embora. Vai…