
Depois de alguns segundos já rodando no Chapeu Mexicano, me dei conta de que eu poderia, simplemente, abrir os braços e curtir, como se quem estivesse me botando no ar, voando, fosse eu mesma ❤
Essa frase ficou para sempre na minha cabeça. Foi-me dita num momento de partida e de chegada. E toda a vez em que me vejo numa situação assim, de mudança, percebo como a frase é verdadeira, sempre.
Sim, deixamos coisas para trás quando escolhemos partir (seja de um relacionamento, de um emprego, da casa dos pais, da cidade, do país). Sim, perdemos o conhecido, o aconchego, o conforto, os momentos futuros. Mas não há vazio da perda. Quer dizer, não precisa haver.
Mas, para mim, o vazio se instalou e doeu pra cacete. O símbolo mais supérfluo do conjunto de perdas que eu colecionei ao fazer a escolha que fiz é… a minha cama. Cama box, novinha, que eu comprei pro cafofo, superconfortável, onde eu dormia como um anjo 7h por noite. Ela ficou pra trás, como todos os utensílios para a casa, os objetos de decoração escolhidos com carinho e toda uma vida que eu havia criado.
Cheguei na Alemanha me recusando a perder com a minha escolha. Martirizando-me por dormir numa cama mole, sem molas, sem conforto, onde o sono não era tão bom quanto antes. Cada noite mal dormida e as manhãs com dor nas costas me faziam remoer as perdas tantas. Das mais supérfluas às mais profundas.
“Mas, Aline, não se pode ganhar sempre”. É difícil aceitar isso, né? Porém, é necessário. Até porque isso abre caminho para a sensação que, um dia, sorrateira e morna como um banho gostoso, chegará. A sensação de entender a tal frase. Entender que a perda abre caminho para novos ganhos. E que essa perda – ou melhor, “o-deixar-de-ganhar-naquela-circunstância-que-você deixou-para trás” – não elimina todos os ganhos que se teve antes.
Escolher partir não tirou de mim a felicidade de comprar meu apartamento, decorá-lo, amá-lo. Nem os momentos que tive com o grupo incrível com os amigos de trabalho que fiz. Nem os aprendizados e alegrias que tive nos outros relacionamentos. Muito menos o amor dos meus familiares e das minhas melhores amigas.
Claro, a gente deixa de viver mais dessas coisas. Ou vive de outro jeito – que pode ser menos gostoso ou menos intenso, mas continua sendo possível vivê-las, é toda uma reestruturação e ressignificação. De novo, não é fácil aceitar isso que vem com a escolha. Mas uma hora você sente o movimento, que vai preenchendo o espaço vazio criado, no início, por aquela sensação doída da perda. E você se sente tão cheio!
Começa a aceitar que a cama não é aquela, mas que é possível ter uma bacana também. Talvez não igual, talvez demore um pouco pra conseguir, mas vem. A gente não terá noites mal dormidas e dores nas costas para sempre. E, o melhor, começa a olhar com outros olhos para as coisas que só aquela mudança, ainda que sofrida, poderia proporcionar.
Agora, eu estou aqui, escrevendo esse post da varanda de casa, passarinhos cantando, o sol da manhã batendo suave na lateral do meu rosto. Esse é o movimento. Ele compensa a cama que eu deixei pra trás. E me oferece algo que eu nunca tive.
Se eu estou aqui, feliz (e felicidade é saber que eu posso superar os obstáculos, a deprê, os medos), é porque aquele “vazio” do início está se permitindo preencher por todo o amor e as vivências que me constituem essencialmente, pelos pequenos e sublimes ajustes já feitos no dia a dia e por tudo o que de novo ainda está por vir!