Foi dia 30 de Junho. De 2016. Um ano depois que aterrisei em solo alemão. Foi também o dia em que o Wanja me deixou presa na varanda.
Sim, presa. Ele saiu pra faculdade e, no automatismo, trancou a porta que liga a sala à área externa. Só percebi horas depois, porque estava num “skype date” com uma amiga. Passei duas horas isolada, sem celular (ficou na sala), sem computador (a bateria acabou).
Minha sorte é que ainda consegui falar com o Wanja pelo chat do Facebook antes que o laptop desligasse de vez (eu não sabia o telefone dele de cor para que minha amiga pudesse entrar em contato. Olha o que a modernidade faz…). Não fosse isso, eu teria que esperar, tipo, até a noite… Wanja chegaria e me encontraria de barba conversando com o Wilson rs.
Pra passar o tempo, eu observei o céu, a árvore no quintal, fechei os olhos e ouvi os passarinhos, o barulho dos carros e alguém mexendo em alguma máquina aqui na vizinhança. Mas essa “meditação” não durou muito, não. A solução foi… dormir.

Fiz a cama na varanda…
Dormi e até sonhei em alemão. Sonhei que o Wanja chegava e dizia “Olha! Você descobriu um lugar novo!”. Acordei pensando que era verdade, mas a porta continuava trancada. Ele chegou uns 20 minutos depois. A primeira coisa que fiz foi correr pro banheiro pra esvaziar a bexiga… #HappyFirstYearInDeutschland
Eu compartilhei essa experiência no Facebook e recebi de um querido amigo, também em solo alemão, o seguinte comentário: “Aline, você descobriu um lugar novo! Que tal a vida de exploradora?”. Eu não entendi a princípio… Para mim, a “descoberta” se tratava de ter encontrado um novo lugar pra dormir. Para mim, era disso que o Wanja estava falando no sonho. E era disso que meu amigo estava falando também.
“Moça, você não tá entendendo seu próprio sonho!“, rebateu o amigo. “Acho que você está lidando com o fato de estar num lugar novo, tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Essa data marca como você descobriu um novo lugar em muitos sentidos: emocionalmente, socialmente, fisicamente… Por mais que o Wanja te ajude, essa jornada é muito íntima. É como se você fosse uma exploradora!”.
A gente leva a vida tão a sério, e tão literalmente, que deixa passar coisas sutis e tão profundas… que nos preenchem de significado, se soubermos ouvir e ver – às vezes, with a little help from our friends 😉
Foi 30 de Junho de 2016. O dia em que eu fiquei presa na varanda para refletir sobre abrir portas, sobre pisar outros caminhos, sobre expandir nossos limites. Exploradora.