Minhas Folhas de Relva

percepções do cotidiano em letras livres

Previsão do tempo 27/11/2010

Filed under: Cotidiano,Intercâmbio,London — Aline Moraes @ 12:14 AM

Começou com um leve ardor nas mãos. Gotículas de sangue brotavam por entre meus dedos. Será o sabonete ridiculamente barato que comprei no supermercado? Só depois que o ardor fora suplantado pela dor nos meus ossos que entendi. Era o frio. A pele resseca, racha, sangra. Coagula e sangra de novo, no mesmo lugar. Mas a cada dia vejo uma nova fonte brotando. O frio deve ser bastante cruel. Sádico!

Começo a sentir tal crueldade em cada parte do meu corpo. Nos pés que doem como se tivessem sido calçados por um sapato estreito demais. Nas mãos não preciso nem falar… Nas orelhas, que finalmente descobriram a diferença que faz ter no capuz do casaco aqueles pelinhos que, no Brasil, são meramente decorativos. No meu rosto, pobrezinho, que não tem muita opção senão fingir que é mais resistente que qualquer outra parte do corpo (talvez seja mesmo, estou torcendo seriamente para isso). Na minha boca, ressecada como se estivesse num deserto, mas principalmente porque é por ela que entra e sai todo o ar possível, frio e quente e frio, porque pelo nariz nada mais passa. Mas é no coração que, dizem, o frio atua com mais crueldade, congelando o sangue e calando sorrisos. Bom…. como muitos dos estereótipos que eu tinha antes de pousar aqui já foram pro ralo (alemães são sérios e formais??? Faz-me rir, babe – e fazem, literalmente), estou naquela esperança de que mais esse mito cairá.

Vixe, parece que estou reclamando, né não? Então por que raios eu quis viver num país em que chove e venta e congela e neva??? Não, não é reclamação, é só constatação. Ainda que doa, é excitante sentir assim, fisicamente, a diversidade. Sei que vou xingar São Pedro daqui a um mês, quando o frio apertar de verdade e eu tiver a impressão de que o inverno não acabará nunca. A novidade tem data de validade, sempre. Bom, pelo menos a mesma novidade. Ainda bem que podemos contar com a renovação. Como o desejo desesperado pela primavera e, finalmente, o verão, que certamente fará o Sol bater mais quente do que nunca na janela do meu quarto.

Enquanto isso… faz menos 1 grau aqui. E eu ainda não comprei um hidratante decente pra salvar a minha pele

 

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