Minhas Folhas de Relva

percepções do cotidiano em letras livres

Trem das Onze… 50 anos depois 24/01/2013

Vó Glória morava no Jardim Brasil, na zona norte de São Paulo, e caminhava pelo menos meia hora para chegar ao Jaçanã. Iam ela, as irmãs e a Vó Aracy (minha bisa) a caminho da igreja. De lá, tomavam o trem. Famoso trem da Cantareira, que passava por aquelas bandas em direção a Guarulhos, já fora da cidade. E ele ia “chic chic chic…….”. Certa vez, a Vó, que levava no colo a irmã mais nova, adotiva, ainda bebê, chegou à estação com o braço mais leve. “Cadê a minina????”. Fizeram o caminho de volta até encontrarem aquele corpinho de nove meses (com cara de dois) acolhido pelo matão que crescia na rua sem iluminação

Aaaahhh primeira-metade-do-século-XX, Século Passado… Tempo em que maquinista e cobrador de ônibus tinham orgulho de seus quepes. Tempo da infância dos meus avós. Tempo que corria lento sobre trilhos… chic chic chic… Tempo que ficou imortalizado para mim na história que minha Vó contou hoje na mesa do almoço. E, para tantas outras pessoas, na canção que dizia “Não posso ficar nem mais um minuto com vocêêêêê… Moro em Jaçanã. Se eu perder esse treeeeem…”.

Adoniran Barbosa cantou o Trem das Onze, marcou uma época, criou um símbolo de São Paulo e nós fomos atrás do que resta dessa história ainda hoje, a partir dos contornos dados pela memória de septua e octogenários como minha Vó, meu Vô Antônio e também Seu Sylvio Bittencourt, Dona Irma Nunes, Seu Antônio de Castro… Personagens de uma matéria especial que nós fizemos na TV Brasil para mostrar “Como Está?” o Trem das Onze. Bora conferir?
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O novo papo de elevador do paulistano 10/01/2013

Filed under: Comportamento,Cotidiano,London — Aline Moraes @ 8:49 AM
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Uma das características típicas do jeito inglês de ser é o small talk sobre o tempo. Aquela conversa fiada que jogamos com estranhos ou semi-conhecidos quando não temos nada melhor a dizer, só para quebrar o gelo (mas sem quebrar muito). Justifica-se os ingleses falarem tanto do céu, da chuva, do frio porque lá o clima é uma porcaria mesmo. É algo que incomoda (ou que surpreende ao se deparar com um céu de brigadeiro em Londres). O problema é que eles SEMPRE falam do tempo. Virou nhem nhem nhem de ponto de ônibus, de estação de metrô, de fila do supermercado…

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Oi? Grande gesto? Babe, isso é obrigação!

Aqui em São Paulo a gente também costuma falar bastante do tempo, afinal também não somos muuuuito abençoados por aqui, onde faz ou muito frio, ou muito calor, ou chove muito… Mas percebi que, ultimamente, nosso small talk de cada dia mudou de temática. Agora, o assunto preferido é o… transporte público! Pelo menos para quem o utiliza, que é o meu caso. Não tem um dia em que eu não encontre um colega no metrô ou no trem e o tema não surja para engatar uma conversa. É o vagão lotado, a burrice de quem não espera os outros saírem para entrar, o corredor abarrotado de gente tentando (só tentando) andar mais rápido para fazer a conexão com o trem… É sempre assim.

Acho que, hoje em dia, é o que mais me incomoda na cidade. Eu mesma entabulo esse tipo de papo por aí. Se tá chovendo? Se caiu o mundo? Ahhh… agora eu só falo nisso se tiver alagado a linha do trem. Ou se uma anta tiver esbarrado em todo mundo com seu guarda-chuva encharcado. São Pedro ficou em segundo plano. Qual o santo do transporte público mesmo???