Vó Glória morava no Jardim Brasil, na zona norte de São Paulo, e caminhava pelo menos meia hora para chegar ao Jaçanã. Iam ela, as irmãs e a Vó Aracy (minha bisa) a caminho da igreja. De lá, tomavam o trem. Famoso trem da Cantareira, que passava por aquelas bandas em direção a Guarulhos, já fora da cidade. E ele ia “chic chic chic…….”. Certa vez, a Vó, que levava no colo a irmã mais nova, adotiva, ainda bebê, chegou à estação com o braço mais leve. “Cadê a minina????”. Fizeram o caminho de volta até encontrarem aquele corpinho de nove meses (com cara de dois) acolhido pelo matão que crescia na rua sem iluminação…
Aaaahhh primeira-metade-do-século-XX, Século Passado… Tempo em que maquinista e cobrador de ônibus tinham orgulho de seus quepes. Tempo da infância dos meus avós. Tempo que corria lento sobre trilhos… chic chic chic… Tempo que ficou imortalizado para mim na história que minha Vó contou hoje na mesa do almoço. E, para tantas outras pessoas, na canção que dizia “Não posso ficar nem mais um minuto com vocêêêêê… Moro em Jaçanã. Se eu perder esse treeeeem…”.
Adoniran Barbosa cantou o Trem das Onze, marcou uma época, criou um símbolo de São Paulo e nós fomos atrás do que resta dessa história ainda hoje, a partir dos contornos dados pela memória de septua e octogenários como minha Vó, meu Vô Antônio e também Seu Sylvio Bittencourt, Dona Irma Nunes, Seu Antônio de Castro… Personagens de uma matéria especial que nós fizemos na TV Brasil para mostrar “Como Está?” o Trem das Onze. Bora conferir?
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