Entre o reinado do céu e a república do inferno

Essa é a primeira vez em que moro sozinha na vida. Quero dizer, não completamente sozinha, mas sem meus pais. É que eu divido uma bela casa de três andares com outras 8 pessoas, e logo será com 9, quando alguns voluntários serão “renovados” e mais um se agregará ao cafofo.

Tudo muito adventurous no começo. Fazer a comida, limpar a casa, ter responsabilidades de fato e aprender a dividir um espaço comum (coisa que, no dia em que eu resolver construir minha família, vai acontecer também). Ainda curto fazer minha comida. Depois do chicken curry, aprendi a fazer chilli con carne e tô me dando muito bem no quesito culinário. Adoro arrumar meu cantinho, ainda mais agora que mudei pra um quarto maior e que tem o janelão mais maravilhoso do muuundo!

Mas já estou dando sinais de encheção de saco. Porque, afff, morar com outras pessoas, ainda mais de culturas diferentes, não é nada fácil. O bom de república é a companhia, nem que seja pra conversar amenidades enquanto prepara a janta ou pra discutir o noticiário durante o café da manhã. Mas pode ser um pequeno inferno também, onde:

•    as pessoas cozinham spaguetti bolonhesa, fingem lavar a louça e, no dia em que você vai secar e guardar, tem que jogar tudo na pia de novo, porque continua tudo manchado de molho de tomate;
•    você, que é brasileira e é mais encanada com limpeza que o resto (mesmo sendo considerada bagunceira no Brasil) acaba não aguentando e (re)lavando o prato da macarronada que não era sua;
•    se faz necessário colocar um sarcástico ponto de interrogação na listinha de tarefas da semana NÃO feitas pelos seus housemates;
•    tem gente que acha que a sala de estar é extensão do quarto e larga tênis, casaco e outras bagunças e nojentices;
•    você tem que olhar todo o dia pra cara daquele colega que dá piti e te enche a paciência;
•    não é possível deixar uma caixa de sabão em pó grande dando sopa na lavanderia, porque vão usar do seu sem pedir, mesmo você tendo escrito “Não use!” (quando você queria ter terminado a frase com um”…, porra!”)
•    a solução é esconder a caixa no seu quarto. Pode isso, Arnaldo???

Fora essas e outras coisinhas, até que tudo bem. Pelo menos a casa é espaçosa, temos dois fogões, ninguém briga pelo controle remoto, não tem pinta de bordel e não cheira a maconha. Ah, esqueci da camada de teias de aranhas misturada a pó que revolve nosso belo lar. Mas aí já não é culpa dos meus não muito higiênicos housemates. É coisa de Inglaterra mesmo. Vi em outras casas do mesmo jeito. Mas, ó… se for por causa das aranhas que não temos baratas aqui, eu tô super bem com isso rsrs.

Desculpem-me pelo post-desabafo-nada-informativo. É que eu acho que vai ser legal ler isso tempos depois, quando eu estiver morando sozinha e não lavando, de preguiça, os meus próprios pratos de macarronada…